Foi no almoço de ontem (01/12/2011), que me veio a inspiração para compartilhar com vocês esta postagem.
Do que se trata?
Ao ver o que minhas irmãs estavam pondo no meu prato, notei uma mistura que tinha carne moída, onde começamos a falar da carne moida, como era feita, etc., e descobri que somente eu e meu sobrinho (o Antero) degustamos a iguaria nesta casa. Bom, eu nem curto muito carne moída, então caí na besteira de perguntar porque minhas irmãs não comiam. Foi quando uma delas disse que era devido a mesma dar a aparência de ter sido preparada de carne humana e ainda acrescentou que a bisteca de porco seria na verdade bisteca de gente. Eu me abri. Por favor não ria, minhas irmãs são pessoas simples que não tiveram oportunidade de estudo, porém contêm dentro de sua simplicidade uma sabedoria muito grande, nunca ninguém viu minhas irmãs metidas em confusão, com intrigas ou fofocas, e sempre lutaram muito para criar e educar a mim e a meu sobrinho. Voltando pro assunto da carne moída, eu aproveitei o ensejo e dei corda, afirmando que o coveiro da cidade era exportador de carne moída, rsrs.
A verdade é que as pessoas mais idosas de cidades pequenas como Hidrolândia, exatamente pelo fato de tempos atrás as condições de estudo serem precárias e os supermercados só terem surgido por aqui cerca de 15 anos para cá, cultivam a crença de que alguns destes alimentos industrializados, hoje muito comuns, sejam feitos de carne de gente ou de algum animal que não pertença à nossa cadeia alimentar.
Outro dia, uma das minhas ex-professoras do ensino fundamental afirmou, com certeza, que o presunto era produzido a partir da carne humana, ou seja, a crença não fica alojada só nas pessoas que não estudaram, é uma coisa normal, tendo em vista como, já citei, a chegada tardia de alimentos industrializados a nossa cidade.
E a carne de jabá?
A carne de charque (Jabá), todo mundo sabe que é produzida a partir da carne de jumento (jegue, mula). É Brincadeira! Mas, no Brasil todo há pessoas que acreditam nisso. Agora, você sabe o porquê?
Vamos a resposta, então!
A carne de charque ou carne de jabá, como a população mais idosa conhece, é produzida a partir da carne bovina e foi vista pela primeira vez numa cidade chamada Grossos, ali no Rio Grande do Norte, lá pelo século XIX, onde um fazendeiro criador de gado de alcunha Souza Machado resolveu unir o útil (que era a quantidade de sal do lugar) ao agradável (seu gado).
E o "home" tinha uma visão empreendedora, montou uma fábrica de charque, e como dizem por aqui, "desembestou" a exportar charque não só para os estados vizinhos, como também para fora do país. A esta hora você deve estar perguntando: cadê o jumento na história?
Bem, para exportar Souza Machado precisava levar sua mercadoria para o porto, pelo que tinha de passar uma várzea de areia e caatinga. Na época ainda não haviam carros e só os escravos não bastavam, precisava de mulas. Então percebeu que a própria várzea tinha o que ele precisava, jegue aos montes e sem nenhum dono aparente. Problema resolvido.
O povo começou a notar que a produção de charque aumentara e, por outro lado, os jumentos locais estavam desaparecendo, deduzindo assim, que Souza Machado estava fazendo charque do animal da família Equus africanus asinus, já que era bem mais barato.
Apesar de Souza Machado ter explicado várias vezes o motivo do sumiço dos jumentos, muitos não acreditaram e, até hoje, há quem diga que carne de charque é de veras, carne de jumento.
Espero que estejam curtindo o blog?
Por favor, comentem, dêem suas opiniões, sugestões e críticas, que serão muito bem vindas.
Abraço!!!
Um comentário:
Gostei da sua escrita. Estava na net em busca de receitas com este tipo de carne. Seu texto me prendeu. Tem estilo. Parabéns!
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